Ontem, de repente, vi a suave brisa que brincava com
flores, tornar-se violência e com fúria de desespero, carregar consigo, folhas
de árvores impotentes, sorrisos que havia nos lábios, corações indiferentes que
vagavam de um lado e outro, e tudo assim, simplesmente.
Bateu-me, angustiados, corações que guardava comigo. Meus
olhos entristeceram-se com os olhos dos que me viam. Minhas mãos, então
entrelaçadas com outras mãos, se perderam e agora, ainda estendidas, permanecem
sozinhas em busca não sei de quais.
Redemoinhos formados de sangue e pó, entontearam-me. Busquei
o meu apoio, mas pela dança que meus olhos viram, perdi-o num canto qualquer.
Vi então, a lágrima de alguém e nela segurei-me com forças que não eram minhas,
até poder suportar tanto desvario.
Instantes e instantes foi o que vi. Nada podia ser totalmente sólido,
como também, nada me trazia a certeza de ser o que eu queria que fosse.
Guiaram meus passos por caminhos que nunca imaginara ver.
Levaram-me até as profundezas e depois até o infinito, indefinidamente. Apenas
eu, corpo e sangue, se é que havia, pois meus sentimentos estavam impedidos de
verterem. Andei mil vezes pela mesma estrada e mil vezes assombrou-me a súbita
impressão de perda, solidão e abandono.
Demorei-me vivendo essa experiência e como sempre, nesses
simples repentes, distante de mim, vi flores brotando, vi crianças brincando,
vi o canto dos pássaros e o amor, ora esquecido, sendo conjugado por uns
poucos, da forma mais bela, mesmo da forma mais pura, como um sentimento que se
deve sentir amando.
Ontem eu vi tudo isso. Hoje já desaparecem das minhas
lembranças, embora sinta que, apesar de cansadas, minhas veias conduzem um
sangue vivo para um coração que já libera sentimento e que me faz, novamente,
estender minhas mãos, não sei para quais, nem por quanto tempo, mas na certeza
de que um dia, hão de encontrar outras mãos, para uma caminhada onde se possa
ver uma suave brisa, tímida, mas consciente, brincando com flores de nossas
vidas.
Edson Luiz de Mello Borges