"É óbvio que te amo, mas vou sufocar o amor.
É óbvio que me arrependo, mas prenderei o perdão em mim.
É óbvio que penso em ti, mas o silêncio é leal e jamais me entrega.
É óbvio que queria que fosse diferente, mas seguirei igual.
É óbvio que morro de medo das minhas escolhas, mas estou acostumado a perder.
É óbvio que continuarei vivendo, a disciplina é a euforia da angústia.
É óbvio que dormirei mais fora de hora, os sonhos são os últimos a serem informados.
É óbvio que não mais nos encontraremos, não faço questão de aparecer tão cedo.
É óbvio que esconderei a emoção, os dentes são os freios das lágrimas.
É óbvio que serei educado, manterei distância do telefone.
É óbvio que ficarei um pouco louco, um pouco cínico, um pouco santo, vou experimentar os extremos da solidão.
É óbvio que não falarei coisa com coisa, que trocarei as palavras por suspiros, que esquecerei onde estava indo no meio do caminho.
É óbvio que custará todo o meu sangue não fazer nada.
É muito óbvio, certo como a sombra que segue à frente quando corro e permanece atrás quando caminho, certo como o rouxinol nos ramos da pitangueira aqui na entrada do edifício. Nenhum amigo precisa perder tempo me avisando.
Por enquanto, e só por enquanto, a recordação é a minha forma mansa de alegria.
Para ser feliz de novo, atravessarei a tristeza que for.
O que não posso é ser triste contigo e estragar o que tivemos.
Prefiro ser triste sozinho."
Fabrício Carpinejar