quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TRISTE SOZINHO



"É óbvio que te amo, mas vou sufocar o amor.

É óbvio que me arrependo, mas prenderei o perdão em mim.


É óbvio que penso em ti, mas o silêncio é leal e jamais me entrega.

 
É óbvio que queria que fosse diferente, mas seguirei igual.


É óbvio que morro de medo das minhas escolhas, mas estou acostumado a perder. 


É óbvio que continuarei vivendo, a disciplina é a euforia da angústia.

 
É óbvio que dormirei mais fora de hora, os sonhos são os últimos a serem informados.


É óbvio que não mais nos encontraremos, não faço questão de aparecer tão cedo. 


É óbvio que esconderei a emoção, os dentes são os freios das lágrimas. 


É óbvio que serei educado, manterei distância do telefone. 


É óbvio que ficarei um pouco louco, um pouco cínico, um pouco santo, vou experimentar os extremos da solidão.

 
É óbvio que não falarei coisa com coisa, que trocarei as palavras por suspiros, que esquecerei onde estava indo no meio do caminho. 


É óbvio que custará todo o meu sangue não fazer nada. 


É muito óbvio, certo como a sombra que segue à frente quando corro e permanece atrás quando caminho, certo como o rouxinol nos ramos da pitangueira aqui na entrada do edifício. Nenhum amigo precisa perder tempo me avisando.


Por enquanto, e só por enquanto, a recordação é a minha forma mansa de alegria.

Para ser feliz de novo, atravessarei a tristeza que for.

O que não posso é ser triste contigo e estragar o que tivemos. 

Prefiro ser triste sozinho."

Fabrício Carpinejar