E por falar em palavras,
quantas terei que dizer para que você escute, ao menos, uma? Quantas mentiras
incertas terei que ensaiar para que nasça uma única e minha verdade? Quantos
“não” terei que ouvir até vê-la pronunciar um simples “sim” que me faça
compreender que não somos diferentes como aparenta ou como você quer que seja.
E por falar em lágrimas,
quantas terei que chorar até que você se decida a enxugar aquela que morre em
minha boca? Quantos olhares lacrimejados serão precisos jogar ao horizonte até
que você resolva virar as costas ao orgulho que nos separa e voltar de braços
abertos, todo o caminho que havia começado?
E por falar em sorrisos (quem
diria!) quero vê-la sorrir e mostrar que a tristeza é passageira, que vai e vem
como aquele carrossel onde transbordávamos de alegria e mostrávamos em nossas
bocas os dentes pequenos ainda, da felicidade brotando para a vida.
Tudo se fazia alegria,
vestida de um colorido vivo, que não fazia, senão, nos entusiasmar e, quem
sabe, nos fazer amar. E nós amávamos. Amávamos cada momento do que vivíamos,
por saber que estávamos assim, juntos, à
espera de uma amanhã, difícil de chegar, mas tão certo quanto a própria
verdade.
Mas hoje, já não pensamos assim.
Nossos sorrisos mais se parecem com um grito de guerra lançados em momentos de
ódio, porque a realidade é assim, a vida é assim e assim é o mundo em que
colocaremos nossos filhos para, quem sabe, brincarem num carrossel
Se é que ainda existem carrosséis
Se é que ainda há tempo para
brincar
Se é que ainda há tempo para
palavras
Se é que ainda há tempo para
lágrimas
Se é que ainda há tempo para
sorrisos
Se é que ainda há tempo...
Edson Luiz de Mello Borges
jan-1978