sábado, 30 de novembro de 2013

PEQUENINA FLOR

O sol queimando o tempo, alegrando a vida,
Se tornando sombra, amena, passiva,
Entrevando a terra, calada, cativa,
Que aceita a planta, que esguia se agiganta,
Escondendo em fruto, perdido, contido
Que então, ainda em botão, permanece esquivo,
Escondendo a beleza, vital, inigualável pureza,
Distante do cio, do mundo bravio,
Do homem errante, hipócrita caminhante,
Em seus passos peregrino, nos seus atos, desatino,
Que virá encurtar o seu incerto destino.

E o pequeno botão, em intensa explosão,
Continua escondido, como num sonho mantido,
Na espera do sim, que o fará cintilar enfim,
Não mais evitando os pássaros,
Não mais fugindo aos insetos, pequenos seres inquietos,
Às borboletas coloridas, em suas asas flutuando,
Como que agradecidas pela liberdade ora suspirando

E como um milagre de existência,
Num pura, verdadeira experiência,
O solitário botão se abre, se despe, se feminiza,
Aparece e se descobre, se fragiliza,
Entrega-se ao tempo, brincando ao vento,
Perfeito e imaculado sentimento,
No grito mais profundo, da vida sobre o mundo,
Verdade que a engrandece, real, viva,
Como se fosse uma canção,
Como se fora sempre uma prece.

O tempo então, testemunha dessa ilusão,
Com seus olhos sagazes, contínuos movimentos tenazes,
Percebe o homem, em andar cambaleante,
Percorrer seus caminhos, incertos horizontes,
Em passos sem ritmo e sem expressão,
Debruçar-se sobre a planta, indefesa, frágil sobre o chão
E arrancar-lhe a flor, agora revestida,
Não de beleza, mas de dor,
Que sente, pétala a pétala, sendo esmagada
Entre os dedos do homem, eterno conquistador

A beleza da flor, temporária e ilusória,
Jaz agora, descrevendo a trajetória,
Que um ser em autodestruição,
Perdido, alma em corrosão,
Pequenina flor, ora destroçada,
Há de ser refeita, recomeçada
E em sua natural atraência,
Costumeira e latente envolvência,
Estará presente na vida do homem, sem mesmo ele saber.
Estará presente nos seus dias e no seu desaparecer.

Edson Luiz de Mello Borges
abril-1978