domingo, 10 de novembro de 2013

AS ROSAS

Rosas que desabrochais, 
Como os primeiros amores, 
Aos suaves resplendores 
          Matinais; 

Em vão ostentais, em vão, 
A vossa graça suprema; 
De pouco vale; é o diadema 
          Da ilusão. 

Em vão encheis de aroma o ar da tarde; 
Em vão abris o seio úmido e fresco 
Do sol nascente aos beijos amorosos; 
Em vão ornais a fronte à meiga virgem; 
Em vão, como penhor de puro afeto, 
          Como um elo das almas, 
Passais do seio amante ao seio amante; 
          Lá bate a hora infausta 
Em que é força morrer; as folhas lindas 
Perdem o viço da manhã primeira, 
          As graças e o perfume. 
Rosas que sois então? – Restos perdidos, 
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha 
Brisa do inverno ou mão indiferente. 

          Tal é o vosso destino, 
          Ó filhas da natureza; 
          Em que vos pese à beleza, 
                   Pereceis; 
          Mas, não... Se a mão de um poeta 
          Vos cultiva agora, ó rosas, 
          Mais vivas, mais jubilosas, 
                   Floresceis. 


Machado de Assis, in 'Crisálidas'